Falar sobre a pandemia da Covid-19 é, na maioria das vezes, contar histórias sobre perdas e recomeços. Nesta terça-feira (2), Dia de Finados, o g1 traz o relato de uma uberlandense de 43 anos que, depois de perder o marido para a doença, encontrou forças no trabalho voluntário. Ela criou um instituto que leva o nome do esposo e já ajudou mais de 500 pessoas. 6u4a18
A professora Renata Ananias foi casada com o policial penal Rogério Ananias, uma das 3.167 vítimas da Covid-19 registradas em Uberlândia até segunda-feira (1º). Promovido pouco antes de falecer, Rogério trabalhava na Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (FICCO) da cidade.

Rogério Ananias faleceu aos 42 anos vítima da Covid-19 — Foto: Jéssica Amaral/Arquivo
Juntos por 23 anos, o casal teve dois filhos: Mateus, de 22 anos, e Isabela, de 19 anos. A família ainda cresceu em 2019, com o nascimento do primeiro neto do casal, Castiel.
No dia 11 de março de 2021, ele foi diagnosticado com a Covid-19 e internado em um hospital particular da cidade. Uma semana depois, foi entubado, mas o tratamento não deu resultado e o policial faleceu no dia 30 de março, aos 42 anos.
Segundo Renata, a dor pela perda de Rogério a abalou profundamente. Ela relata que chegou a ganhar 15kg e que "não se sentia motivada para fazer nada".
"É muito triste, porque ele foi uma pessoa maravilhosa. Não tem sido fácil viver sem, porque foram 23 anos juntos", disse.

Família de Rogério Ananias — Foto: Renata Ananias/Arquivo
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Um mês depois do falecimento, primos de Rogério propam a criação de um projeto social em homenagem a ele. Com isso, inspirada na história de vida do esposo, Renata se juntou a parentes e amigos e fundou o Instituto Rogério Ananias em abril deste ano.
A iniciativa busca ajudar pessoas em situação de vulnerabilidade em Uberlândia, hábito cultivado pelo marido durante a vida.
"O Rogério nunca soube falar 'não' para ninguém, era um pessoa muito boa para quem era bom", conta a professora. "Ele sempre ajudava, então nós juntamos o útil ao agradável e surgiu essa ideia do instituto".
Desde a fundação, o projeto já organizou campanhas de arrecadação de agasalhos, alimentos e brinquedos para pessoas em situação de vulnerabilidade. Mensalmente, entre 20 e 30 famílias recebem cestas básicas montadas pelo instituto.
Além disso, o grupo realiza mensalmente a 'Janta Solidária', onde marmitas são distribuídas a pessoas em situação de rua. Segundo a advogada Jéssica Amaral, amiga de Rogério e presidente do instituto, pelo menos 200 pessoas recebem os alimentos em cada edição.
"Quando eu penso que estou fazendo o bem ao próximo com o nome dele na camiseta, eu sei que ele está perto de mim", falou Jéssica.
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Projeto serve marmitas para moradores de rua uma vez por mês — Foto: Instituto Rogério Ananias/Arquivo Pessoal
Afastada do cargo de professora, Renata conta que o trabalho voluntário se tornou uma válvula de escape para superar a angústia e seguir em frente.
"Com o instituto, eu percebi que minha história é muito pequenininha perto das outras. Eu percebi que precisava levantar e sacudir a poeira, porque o Rogério era uma pessoa que gostava de viver", disse.
No instituto, Renata e os demais voluntários já ajudaram outras famílias que também perderam entes. A essas pessoas, a professora deseja forças e recomenda que elas se lembrem do legado que os parentes e amigos nos deixam.
"É preciso ter fé, muito amor no coração e acreditar que há algo maior lá em cima. Eu sinto o Rogério quando estamos fazendo uma campanha, sei que ele tem orgulho de nós. Ele está olhando por nós, assim como todas as pessoas que nos deixam".
Agora, depois de 7 meses de trabalho, a equipe que comanda o instituto pensa ir mais longe e não esconde um sonho: contar a história de Rogério na televisão.
"A gente quer aparecer no Caldeirão do Marcos Mion. Eu preciso contar para o mundo quem era o Rogério", contou Jéssica.
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Instituto Rogério Ananias, em Uberlândia, homenageia policial que perdeu a vida para a Covid-19 — Foto: Instituto Rogério Ananias/Arquivo
Para apoiar o Instituto Rogério Ananias, com doações ou com a compra de camisetas com a marca do projeto, é possível entrar em contato pelas redes sociais ou pelo telefone (34) 99128-1883. Também é possível doar indo aos pontos de apoio.