Foi lançado nesta terça-feira (8) o projeto "Reviva Capitólio- Viva o Mar de Minas" com intuito de recuperar e garantir mais segurança ao turismo na região de Furnas. No local ocorreu a tragédia em que 10 pessoas morreram ao serem atingidas por um paredão de rocha que se desprendeu de um cânion e caiu sobre a embarcação que elas estavam. A tragédia completa um mês nesta terça-feira. 2x5kr

caso segue em investigação pela Polícia Civil, que pediu a prorrogação do inquérito por 30 dias devido à complexidade das apurações.

 

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Um total de 80 ações e investimento de R$ 5 milhões visam recuperar e garantir a segurança do turismo na região com o projeto "Reviva Capitólio- Viva o Mar de Minas".

Projeto é lançado para recuperar e garantir segurança no turismo na região de Furna em Capitólio — Foto: Secult/Divulgação

Projeto é lançado para recuperar e garantir segurança no turismo na região de Furna em Capitólio — Foto: Secult/Divulgação

 

As ações serão integradas pela Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (Secult), além das prefeituras de CapitólioSão José da Barra e São João Batista do Glória, polícias Militar (PM) e Civil, Corpo de Bombeiros, Defesa Civil, Marinha do Brasil, Instâncias de Governanças Regionais (IGRs), Sebrae, Fecomércio, Sesc, Senac e sociedade civil. A ação integra o programa Reviva Turismo do Governo de Minas.

"Temos todos os segmentos turísticos, não só o náutico, mas o de aventura, ecoturismo, o cicloturismo. Nossa região tem uma potencialidade grande para explorar esses novos segmentos. Então esse projeto traz força para direcionar e potencializar esses caminhos. Ficamos felizes com os investimentos que serão feitos, os recursos que estão sendo captados para trabalhar essa iniciativa. É uma conquista para a região nesse momento de recuperação”, pontuou o prefeito de Capitólio, Cristiano Geraldo da Silva.

De acordo com o secretário de Estado de Cultura e Turismo, Leônidas Oliveira, a reestruturação é necessária e trará mais segurança para a região.

“Esse momento representa uma tomada de consciência e de decisão com o projeto Reviva Capitólio, que se estrutura nos quatro eixos, tendo início com a análise, que se desdobrará num plano de manejo para uso dos cânions, além de outras ações estratégicas. Importante registrar que os 80 km do Mar de Minas estão abertos. Os hotéis e pousadas estão funcionando, os eios de barcos e lanchas estão acontecendo normalmente no lago e as 34 cidades que compõem este complexo estão abertas para os turistas. Vamos lembrar também de outras riquezas que temos aqui, nossa Cozinha Mineira, o queijo da Serra da Canastra, aqui próximo, tudo isso está aguardando os turistas de forma vibrante e pronto para recebê-los com a mineiridade, o nosso afeto, que é muito particular de Minas Gerais”, destacou o secretário.

 

Etapas do projeto 27o6a

 

Segundo a Prefeitura de Capitólio, o projeto terá três etapas e a primeira já está andamento, é o diagnóstico pormenorizado, geológico e estrutural da localidade. O estudo preliminar deve ser concluído até março e está sendo realizado pelos municípios em parceria com as universidades Estadual Paulista (Unesp) e Federal de Goiás (UFG), com acompanhamento da Sociedade Brasileira de Geologia. Entre abril e novembro deste ano deverão ocorrer outros dois levantamentos.

A segunda etapa inclui o ordenamento, regulamentação de uso e ocupação dos cânions e das águas por parte dos municípios, previsto para ser entregue até abril. O objetivo é aprimorar os planos municipais de gerenciamento costeiro, planos diretores, de zoneamento e de uso das águas e aplicação das normas definidas pelo novo ordenamento.

Também está previsto disciplinar o uso de espaços fluviais e lacustres específicos, com o propósito de evitar acidentes e harmonizar a convivência entre banhistas, esportistas aquáticos e embarcações. É nesta fase que será implantada a Rede Integrada de Proteção ao Turismo, parceria entre PM e Secult, também anunciada no evento em Capitólio.

Nesta etapa também será criado um consórcio entre os municípios de CapitólioSão José da Barra e São João Batista do Glória para aplicar as regras de forma conjunta. Além disso, o plano inclui o desenvolvimento de um aplicativo para o monitoramento do fluxo de pessoas em eios náuticos e terrestres e a criação de um grupo de estudos para o Turismo de Aventura, com a participação de Conselhos Municipais de Turismo, IGRs envolvidas, do ICMBIO e da Associação Brasileira das Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura (Abeta). A Secult ainda deve elaborar e publicar, com o Grupo de Trabalho de Turismo de Aventura e municípios, uma resolução e legislação para a prática comercial da atividade.

A terceira etapa composta pela formação, informação e qualificação dos agentes públicos e privados, bem como usuários e turistas, para promover o uso seguro e sustentável da área. Um observatório do turismo específico para a região será criado, para acompanhar dados e indicadores. Uma série de capacitações, webinários e ações de formação também está prevista. Este momento ainda inclui a criação de um sistema de informação regional, de sinalização turística, um posto integrado de acolhimento ao turista e uma ação de sensibilização para cadastramento de empreendimentos no Cadastur.

O reposicionamento de Capitólio e Mar de Minas como destino seguro dentro e fora do estado faz parte do quarto eixo estratégico, com projetos de comunicação, marketing e promoção dos atrativos. Dentre as medidas estão um conjunto de ações voltadas para diversos canais digitais para atrair potenciais turistas. Neste último ponto foi proposta a criação de um edital específico para o Mar de Minas, tendo em vista a promoção do destino.

 

Relembre a tragédia 224427

 

O acidente ocorreu no início da tarde de um sábado no Lago de Furnas, quando um grupo 10 turistas, a maioria da mesma família, alugou uma lancha para percorrer a região que é rodeada por imensos paredões rochosos. Em um momento de descontração, em que rotineiramente as embarcações ficavam paradas para que as pessoas desfrutassem das paisagens, uma das rochas se desprendeu e atingiu a lancha. Algumas pessoas que perceberam o que ia ocorrer chegaram a tentar avisar aos gritos.

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O piloto da lancha e também uma das vítimas, Rodrigo Alves dos Anjos, 40 anos, estava na embarcação com seis pessoas da mesma família, outro marinheiro e um casal de namorados.

O eio familiar, que reuniu pessoas de vários locais, foi programado para ser um dia de descontração, já que eles não se viam desde o Natal, segundo Alessandra Barbosa, sobrinha das vítimas. Todos eles tinham costume de visitar os famosos cânions do Lago de Furnas, exceto o casal de namorados, que fazia o eio pela primeira vez.

Por lá, as paisagens são deslumbrantes. Por causa do barulho dos motores das embarcações, que são muitas, a movimentação da água, somado ao ruído de turistas e quedas d’água, só mesmo os olhos ficam atentos. Pouco se escuta.

Deslizamento atinge embarcações com turistas em Capitólio (MG) — Foto: Arte/g1

Deslizamento atinge embarcações com turistas em Capitólio (MG) — Foto: Arte/g1

 

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Ocupantes de uma lancha mais distante de onde Rodrigo estava, perceberam pedras rolando cânion abaixo. Se assustaram quando, rapidamente, as pedras começaram a cair em maior volume. Começaram a gritar para que as lanchas posicionadas abaixo do cânion saíssem de lá.

Os gritos se tornaram imperceptíveis em meio ao barulho. Foi então que uma grande rocha se desprendeu de um cânion na horizontal e desabou sobre a água. Outras embarcações próximas conseguiram se afastar, ainda assim os ocupantes foram atingidos e tiveram apenas ferimentos.

A lancha de Rodrigo, no entanto, não teve a mesma sorte. Ela foi diretamente atingida pelo enorme paredão, que ainda sem causa identificada, caiu e matou as 10 pessoas.

 

Buscas pelas vítimas 15348

 

Bombeiros retomaram neste domingo (9) buscas por dois desaparecidos após queda de paredão em Capitólio  — Foto: Reuters

Bombeiros retomaram neste domingo (9) buscas por dois desaparecidos após queda de paredão em Capitólio — Foto: Reuters

Desde o acidente, ocorrido entre 12h e 13h de sábado, o Corpo de Bombeiros e Marinha do Brasil, iniciaram as buscas pelas vítimas. Oito corpos foram localizados no mesmo dia do acidente. Os dois últimos foram encontrados na segunda-feira (9).

Ao todo, 12 mergulhadores e oito bombeiros trabalharam durante as buscas em Capitólio que foram realizadas até o dia 11 de janeiro, quando foi definido, entre a Polícia Civil e os militares, a suspensão das buscas pelos fragmentos.

 

Veja abaixo quem são as vítimas da tragédia em Capitólio:

  • Julio Borges Antunes, 68 anos, natural de Alpinópolis (MG)
  • Maycon Douglas de Osti, 24 anos, nascido em Campinas
  • Camila da Silva Machado, 18 anos, nascida em Paulínia
  • Sebastião Teixeira da Silva, 64 anos, natural de Anhumas
  • Marlene Augusta Teixeira da Silva, 57 anos, natural de Itaú de Minas
  • Geovany Teixeira da Silva, de 37 anos, natural de Itaú de Minas
  • Geovany Gabriel Oliveira da Silva, 14 anos, natural de Alfenas
  • Thiago Teixeira da Silva Nascimento, 35 anos, natural de os
  • Rodrigo Alves dos Anjos, 40 anos, nascido em Betim
  • Carmem Pinheiro da Silva, de 43 anos, natural de Cajamar (SP)

 

 

Investigação 5x2a1g

 

Um dia antes de completar um mês da tragédia, a Polícia Civil de Minas Gerais solicitou à Justiça, nesta segunda-feira (7), mais 30 dias para concluir o inquérito alegando complexidade nas apurações.

Em entrevista nesta segunda, o delegado Marcos Pimenta, que preside as investigações, disse que 50 pessoas foram ouvidas dentro do processo. Perícias no local da tragédia e nas embarcações foram realizadas e os laudos estão sendo aguardados.

"Já consta no bojo do inquérito policial as 50 oitivas, incluindo testemunhas, turistas, empreendedores, representantes do poder Executivo de municípios da região, engenheiros, dentre outros. Também estão presentes no inquérito solicitações de informações técnicas ao Supram [Superintendência Regional de Meio Ambiente], IEF [Instituto Estadual de Florestas], Igam [Instituto Mineiro de Gestão das Águas], DER [Departamento de Estradas e Rodagem], Marinha do Brasil, Prefeitura de Capitólio, Crea [ Conselho Regional de Engenharia e Agronomia], dentre outros. Um grupo de peritos da Polícia Civil de Minas Gerais com a utilização de apoio aéreo também esteve presente na região e realizou os trabalhos técnicos, os quais encontram-se em fase de conclusão e serão juntados ao inquérito policial, tão breve findados”, detalhou.

Diante do vasto material para apuração do caso, o delegado fez o pedido de 30 dias para concluir o inquérito.

 

“Diante da complexidade dos fatos e da necessidade de aguardar os laudos, bem como de esmiuçar a vasta documentação angariada, a Polícia Civil pleiteou a dilação de prazo por 30 dias perante o poder judiciário de Piumhi", pontuou o delegado.

 

Delegado Marcos Pimenta durante coletiva de imprensa — Foto: Reprodução/TV Globo

Delegado Marcos Pimenta durante coletiva de imprensa — Foto: Reprodução/TV Globo

 

Mais sobre a investigação

Desde o início as investigações, os trabalhos estão pautados na ciência e, por isso, a polícia tem buscado apoio de especialistas, como mencionou o delegado. Várias instituições têm fornecido material de apoio para o inquérito policial.

“O foco não é procurar culpados e, sim, respostas para que se evite, se for possível, que outras placas caiam”, ressaltou o delegado.

Marcos Pimenta afirmou que será investigado se houve alguma ação que provocou a aceleração da ruptura da rocha e, caso isso tenha ocorrido, ao fim do inquérito, haverá indiciamento. Mas de acordo com ele, ainda é cedo para apontar eventuais responsabilidades.

Para a realização de análises das causas do acidente, segundo o delegado, a polícia entrou em contato com a Sociedade Brasileira de Geologia e também com professores da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), além de outros especialistas.

 

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Represa de Furnas, em Minas Gerais — Foto: Globo Repórter/ Reprodução

Represa de Furnas, em Minas Gerais — Foto: Globo Repórter/ Reprodução

 

O Lago de Furnas foi formado em 1963, onde a área onde a empresa opera foi desapropriada pela União, para a construção da Hidrelétrica de Furnas e concedida à usina, que se tornou responsável pela gestão do reservatório, de acordo com o contrato de concessão.

Sendo a responsável pela área, o g1 questionou à empresa se além de operar a hidrelétrica, ela também não seria responsável por fiscalizar e monitorar áreas de o ao público. A empresa respondeu a reportagem por meio de nota:

"Furnas não tem a concessão do lago, mas sim do serviço de geração de energia elétrica por meio da água do reservatório. O uso do lago para fins de produção de energia elétrica não afasta a possibilidade de utilização para outras finalidades, nos termos da Lei Federal nº 9.433/97, que estabeleceu a Política Nacional de Recursos Hídricos, como é o caso do turismo, cuja responsabilidade e fiscalização não competem a Furnas. A empresa ressalta que sua gestão está restrita exclusivamente a atividades que se correlacionem com a produção de energia", diz a nota.