Um estúdio de tatuagem na Savassi, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, é apontado por mais de 40 mulheres como palco de abusos sexuais contra suas clientes. O responsável pelo Tattoo Reggae Studio, um dos principais da capital, Leandro Caldeira, conhecido como Leleco, é indicado como autor desses crimes em dezenas dos relatos – ocorridos desde, pelo menos, 2012. A polícia já foi acionada e o Ministério Público deve ser provocado em breve. Procurado pelo BHAZ, o tatuador não quis se manifestar – às 21h15 desta segunda-feira (18), publicou um comunicado em rede social (leia mais abaixo). 6c92r

“Sou tatuador profissional há 22 anos, sem nenhuma mácula no meu currículo e afirmo como pai de família, marido e filho, que nenhuma destas acusações são verdadeiras”, publicou Leandro Caldeira no Instagram, que ainda disse que vai registrar um Boletim de Ocorrência “para apurar todas as calúnias, injúrias e difamações contra meu nome”.

As denúncias vieram a público após a ex-candidata ao Senado, ativista e professora, Duda Salabert, fazer uma enquete em sua rede social questionando se as mulheres já sofreram abuso em estúdios de tatuagem. Com isso, segundo Salabert, mais de cem mulheres entraram em contato relatando casos de abusos, 40 delas citaram o estúdio. O BHAZ conversou com quatro das vítimas.

Sem calcinha, sem blusa hj12

Em dezembro de 2016, uma mulher – hoje com 28 anos – procurou o estúdio para fazer uma tatuagem na barriga, pouco abaixo do umbigo. O responsável pelo estabelecimento pediu para que ela retirasse a calcinha.

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“Eu imaginei que fosse para facilitar o trabalho dele e, inocente, optei por tirar. Eu deitei na maca e me senti incomodada, pois ele estava apoiando a mão em minhas partes íntimas. Em um determinado momento ele forçou o dedo na direção da minha vagina, foi quando eu fingi que estava tossindo e ele perguntou se estava doendo”, relembra.

“Isso se repetiu algumas vezes ao longo das 4h de sessão. Eu queria que ele parasse, mas fiquei com medo da tatuagem ficar ruim. Saí de lá me sentindo muito mal e só contei para uma amiga o que tinha ocorrido”, relata.

No caso mais antigo dos relatos, em 2012, uma jovem de 19 anos – hoje, com 25 anos – afirma ter sido obrigada a tirar a blusa mesmo sem necessidade. A tatuagem foi realizada na costela. Além disso, a vítima afirma que o tatuador demorou de forma proposital e, em determinado momento, derrubou tinta e ou a mão em seu seio, alegando que estava limpando o local.

Em choque e amedrontada, a mulher ficou com medo de reagir, já que tratava-se de sua primeira tatuagem e o homem poderia prejudicar o desenho.

‘Ereção’ 4y82s

Já em junho do ano ado, outra mulher, que hoje também tem 25 anos, suspeita que o tatuador ejaculou em sua mão. Ele posicionou o braço dela de forma com que sua mão ficasse próxima ao pênis dele – um desenho simples durou mais de 1h para ser concluído.

“Durante a tatuagem ele ficava encostando a genital em mim. Deu para perceber que havia ereção. Em um momento eu senti minha mão úmida, mas não sei se ele ejaculou”, conta.

A vítima conta algo recorrente nas denúncias: pensou que fosse “algo da cabeça dela” e preferiu não denunciar. “Não contei nada para ninguém. Achei que ele estava fazendo aquilo por conta da posição do meu braço. Eu até pensei em voltar no estúdio para corrigir uma falha no desenho, mas evitei porque achei tudo muito estranho”.

Com o surgimento de várias denúncias envolvendo o mesmo tatuador, a vítima resolveu expor o caso. “Estou indignada, me sentindo ingênua. O pior é ver que a maioria das mulheres estava como eu, achando que era coisa da cabeça delas enquanto o tatuador estava claramente abusando. É triste ar por isso e ainda se culpar. É um absurdo. E ainda bem que somos várias e vamos conseguir alguma coisa”, afirma a vítima.

Outra vítima ouvida pela reportagem, uma mulher de 27 anos, conta que já havia feito tatuagens com o Leandro, em 2011. Na época ela estava acompanhada do namorado. Contudo, em janeiro do ano ado, ela voltou sozinha e percebeu a mudança de comportamento do tatuador.

“Fui fazer duas tatuagens, uma no braço e outra na perna. Ele me convenceu a fazê-las no antebraço e no bíceps e eu concordei. Durante a sessão, por diversas vezes, ele colocava meu braço em seu colo e eu recolocava na maca. Ficamos nessa até que eu decidi travar o braço e ele parou”, afirma.

“Quando começamos o segundo desenho, eu virei de costas e comecei a mexer no meu celular. Quando percebi, minha mão estava na região do pênis dele, que estava com uma ereção. Eu me assustei e perguntei se já estava acabando, pois eu tinha um compromisso”, diz ela.

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Duda Salabert já procurou a Defensoria Pública, vai acionar o Ministério Público e conta que está organizando um grupo de mulheres para estudar as medidas cabíveis para o caso. “São muitas denúncias e nós não podemos deixar isso assim. Eu estou entrando em contato com as mulheres e, juntas, vamos formular uma ação”, afirma.

Advogados populares e psicólogos da Casa de Referência da Mulher Tina Martins já estão sendo acionados para atuar no caso. Duda Salabert planeja, também, pedir auxílio de tatuadores para cobrir as atuais intervenções.

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O BHAZ entrou em contato com Leandro Caldeira. Por telefone, ele disse que está procurando um advogado para se defender e que não vai comentar as acusações, pelo menos por enquanto. Caso o tatuador resolva falar sobre os casos, a matéria será atualizada.